segunda-feira, 30 de março de 2009

A arte de desenvolver pessoas

Desenvolver pessoas implica ajudá-las a tornarem-se aptas a usar suas forças mentais e corporais por iniciativa própria, num contexto de respeito pelo outro e pelo meio ambiente. O processo é dinâmico e interativo e o mestre, muitas vezes, aprende com o aluno. Como resultado do processo espera-se pessoas com autodisciplina e autoconfiança, capazes de continuarem aprendendo, produzindo e ajudando no desenvolvimento de outras pessoas por toda a vida.

Nesse processo, prática e reflexão devem ser conjugadas de forma que se possa chegar à internalização dos princípios fundamentais da ação em cada campo de atividades. Enquanto tais princípios não são descobertos pelo próprio praticante, obviamente que ele os toma emprestados da experiência humana em geral e, especificamente, da tradição do campo de atividades em que atua.

A tradição alemã de preparação de mão-de-obra disciplinada e autoconfiante consiste, por exemplo, em fazer com que ela pratique, durante seis a oito meses, a arte de limar metais. Somente a partir daí as pessoas são colocadas em contato com a informática e outras tecnologias, pois estarão em condições de dominá-las seguindo o hábito adquirido de fazer trabalho limpo e com estilo.

Técnica semelhante é usada pelos japoneses, que se inspiram em tradições filosóficas, religiosas e, especialmente, nas artes marciais. A disciplina própria das artes marciais no estilo japonês pode ser vista, por exemplo, na arte do manuseio da espada e de atirar com o arco. A meta final é a elevação espiritual do praticante, e não apenas a obtenção de resultados finais mensuráveis; porém, com essa elevação, ele se torna aptos a obter resultados excepcionais.

Freud destacou, como parte do processo histórico de desenvolver pessoas, a combinação de amor, trabalho, esporte, arte e religião além de, em último caso, coerção. Ele alertou para a necessidade de se buscar a ação sempre centrada em conhecimento como forma de superar ilusões e permitir ao homem uma educação racional e digna, apesar das forças irracionais que o impulsionam à ação.

Psicólogos e líderes em geral têm concordado que o desenvolvimento humano se dá quando as pessoas são levadas a atingir metas desafiadoras, porém factíveis, e que apresentem resultados parciais prontamente mensuráveis e reconhecidos, como ocorre no esporte. Os avanços devem ser elogiados, assim como as falhas devem ser reconhecidas como esforço de treinamento, que deve ser intenso antes da ação efetiva.

Enfim, o desenvolvimento de pessoas ocorre quando elas aplicam a dinâmica do conhecimento intencionalmente, individualmente ou em equipe. Essa dinâmica é composta pela interação entre ideação, experimentação, julgamento, sistematização e operação, sendo aplicada em três níveis: imitação, ou aprendizagem da prática estabelecida; aperfeiçoamento contínuo e, eventualmente, inovação. Enquanto se percorre essa dinâmica, é imprescindível adotar princípios gerais de convivência validados pela longa experiência da humanidade, tais como: amizade, alegria, justiça, equidade, honestidade e solidariedade.

O sentido da vida não se encontra no produto da ação humana, mas no interior mesmo do homem, pelo desenvolvimento de sua potência de agir com qualidade e produtividade. As peculiaridades humanas, como ritmo e intensidade da ação, devem ser respeitadas, assim como suas condições gerais e específicas de existência. Em última análise, a experiência cotidiana nos diz que o desenvolvimento humano tem muito mais de arte do que de ciência.

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