quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

A tartaruga está vencendo

Em 1992 participei de um encontro com consultores japoneses sobre competitividade. Na ocasião um deles comparou a Toyota com uma tartaruga, e as demais montadoras americanas com um coelho.

O argumento: - o coelho é muito rápido, mas tem a desvantagem de possuir uma orelha desfavorável aerodinamicamente, além de ter uma vida mais curta. Ele é imbatível numa corrida de alta velocidade. A tartaruga (Toyota) é lenta, mas caminha com persistência inabalável para sua meta final. Sua vida é mais longa e sua aerodinâmica mais apropriada quando o vento sopra contra. Neste momento a disputa está cabaça-a-cabeça, mas quando o vento do mercado soprar contra os dois, veremos, finalmente, a vantagem da tartaruga.

Parece que a "profecia" está se cumprindo. A crise atual, embora seja para todos, está demonstrando que a estratégia da tartaruga - ninja, por sinal -, não é das piores. Com foco em qualidade e produção enxuta, a Toyota construiu o modelo de gestão mais admirado e copiado do mundo.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

O homem como poderia ser

Sempre que o indivíduo toma consciência de sua verdadeira missão na vida, chega à conclusão que ele próprio é o produto a ser produzido com qualidade e produtividade. Assim, na Grécia de Péricles, atingiu-se o apogeu de uma civilização que buscava beleza, verdade, liberdade e justiça - apesar de ali existirem escravos -, mas, sempre como expressão de virtudes lapidadas para honrar aos deuses. Sócrates, o exemplo máximo de sabedoria grega, enfatizou a necessidade de se atingir a excelência do homem interior, conhecedor de si mesmo.

Com a emergência do cristianismo, ressaltou-se a necessidade de o homem viver para realizar as qualidades de Cristo, o que o colocariam muito acima de quaisquer ambições terrenas de busca de prazer, fama e riquezas. Sob a perspectiva cristã, a principal missão do homem na Terra, além de servir ao Deus único, seria amar ao próximo como a si mesmo. Seu trabalho deveria expressar a perfeição cultivada dentro de si, mas nunca tornar-se objeto de idolatria.

Deming, quando ensinou o controle de qualidade aos japoneses, enfatizou que qualidade não se referia a produtos, mas a pessoas. Ishikawa, o grande líder do movimento japonês pela qualidade, enfatizava que a qualidade que se devia perseguir referia-se à felicidade das pessoas. Segundo Ishikawa, as empresas que não conseguissem atingir esse objetivo não mereceriam existir.

Bertrand Russel, o grande filósofo e matemático não-teísta, assim retratou o homem como poderia ser:

"Aqueles que são proveitosos para si mesmos, para seus amigos, ou para o mundo, são inspirados pela esperança e mantidos pela alegria: vêem na imaginação as coisas como poderiam ser e o modo pelo qual poderiam vir a ser reais. Em suas relações particulares, não se sentem angustiados, temerosos de que venham a perder o afeto e respeito que recebem: ocupam-se em dar afeto e respeito gratuitamente, e a recompensa vem por si mesma, sem ser procurada. Em seu trabalho, não estão perseguidos por ciúmes de concorrentes, mas interessados na coisa concreta a ser feita. Em política, não perdem tempo e ardor defendendo privilégios iníquos de sua classe ou nação, mas têm em mira tornar o mundo mais feliz, menos cruel, menos cheio de conflito entre mesquinharia rivais, e mais pleno de seres humanos cuja evolução não foi impedida ou atrofiada pela opressão."

O homem descrito por Russel não é um sonho. Ele existiu e ainda existe, embora seja um tipo raro. Por isso mesmo é o melhor produto do mundo, o único que vale a pena se esforçar para se produzir em massa. Aristóteles, Goethe, Emerson, entre outros humanistas, consideraram que esses homens representativos deveriam ser tomados como referência para se criarem sistemas educativos realmente orientados para a e pela qualidade.

Como a meta do homem não é a opinião, nem a crença, mas o conhecimento, é fundamental que se domine, então, a Dinâmica do Conhecimento aplicado a pessoas, e que se estabeleçam sistemas sociais capazes de produzir os homens como poderiam ser. Na escola, no governo, na empresa e em todo tipo de organizações humanas, a meta prioritária deveria ser formar homens competentes, íntegros e solidários

domingo, 11 de janeiro de 2009

Motivação e liderança

O homem age porque é submetido a motivos, seja de dentro para fora, impulsionando-o, seja de fora para dentro, puxando-o. Ao agir, ele influencia as pessoas, em maior ou menor grau e, em alguns casos, assume o papel de acionador de pessoas, manipulando, consciente ou inconscientemente, os motivos capazes de mobilizá-las para alcançar certos objetivos. Nesse caso, se os influenciados agem por livre e espontânea vontade, está-se diante de um líder. Se o influenciador o faz profissionalmente, visando à obtenção de resultados em troca de pagamento, independente do afeto dos seguidores, está-se diante de um gerente, que pode ou não ser líder.

A situação ideal ocorre quando o gerente é um líder, e quando os dois podem agir com conhecimento de causa sobre os fatores que afetam a conduta humana. Esse ideal se completa quando o indivíduo, seja líder ou seguidor, ou ambos, dependendo das circunstâncias, age com conhecimento profundo sobre a natureza humana, sua e do outro. Assim, o tema motivação e liderança torna-se vital para que as organizações humanas sejam produtivas e os seus trabalhadores se realizem no trabalho, mas é também um tema muito sensível, pois pode entrar em jogo a manipulação pura e simples quando prevalece o interesse de servir-se do outro ao invés de servir à sociedade.

São três as grandes linhas de explicação dos motivos humanos: a psicanalítica, a humanista e a comportamentalista. A primeira teve Freud como seu principal teórico; a segunda Abraham Maslow e a terceira, Skinner. Freud defendeu que o ser humano se move por três motivos principais: o poder, a amizade e a realização. Maslow defendeu que o homem age para satisfazer as necessidades básicas que estão dentro dele, e são intrínsecas ao seu existir, que são: fisiológicas, de segurança, sociais, de estima e de autorealização. Skinner defendeu que o homem não tem liberdade para agir, mas que apenas reage, como um organismo, aos estímulos que o ambiente lhe submete.

As pessoas intuitivas não se apegam a nenhuma dessas teorias, embora possam agir como se tivessem escolhido um ou outro desses pressupostos. Eventualmente, agem de forma pragmática, parecendo mudar de pressupostos para conseguir os seus objetivos ao lidar com pessoas. Como líderes, elas influenciam e geram ações com o menor esforço possível; como gerentes, elas geram resultados e fazem o que julgam mais correto para conseguir mobilizar as pessoas. Quando se dão ao trabalho de refletir, agem como líderes situacionais, manipulando os motivos que podem gerar resultados no contexto em que estão. Em todos os casos, elas agem a partir de um jeito pessoal de ser que decorre da combinação do seu temperamento – de natureza genética -, e do seu caráter – cultivado sob as condições culturais prevalecentes.

Compreender os motivos que afetam a ação humana, as características do líder, nato ou cultivado, e como tudo isso afeta o gerenciamento visando à obtenção de resultados específicos, é fundamental para a realização do potencial produtivo das organizações humanas em geral. O processo de comunicação humana é a ponte que ligará as pessoas de modo que produzam em comum. A comunicação, como ação comum e unificada, visando a fins escolhidos depende, pois: do conhecimento dos motivos que movem as pessoas, da existência de uma rede de líderes em ação, que esses líderes sejam orientados para a gestão dos recursos visando ao alcance de fins estabelecidos e que dominem o processo de comunicação humana.

É importante, sobre o tema: partir das experiências de vida de cada um; conhecer as teorias básicas, estudar o perfil de líderes representativos, estudar as práticas de motivação e liderança nas empresas com credibilidade e, finalmente, sintetizar o assunto para uma eventual aplicação dos princípios extraídos dos estudos e observações feitas.

sábado, 10 de janeiro de 2009

O homem segundo Erich Fromm

Estamos acostumados a ver o ser humano sob as perspectivas psicanalítica, humanista ou comportamentalista, entre outras. Na maioria das vezes prevalecem crenças que decorrem da fraca experiência pessoal, deixando de lado o mais elementar bom senso, bem como as pesquisas sérias sobre o tema.. É interessante rever a perspectiva de Erich Fromm, um cientista social e psicanalista humanista perspicaz que procurou encontrar o denominador comum entre algumas abordagens influentes, apesar de contraditórias.

Ele ressaltou o amor, o trabalho, a cooperação, a arte e a alegria de viver como pilares fundamentais da natureza humana sadia. Para Fromm, a saúde mental dependeria da satisfação das necessidades impostas pelas condições de existência, e o conceito seria o mesmo para os homens de todas as épocas:

“A saúde mental se caracteriza pela capacidade de amar e criar, pela libertação dos vínculos incestuosos com o clã e o solo, por uma sensação de identidade baseada no sentimento de si mesmo como o sujeito e o agente das capacidades próprias, pela captação da realidade interior e exterior, isto é, pelo desenvolvimento da objetividade e da razão.”

Ele afirmou, com base em ampla experiência clínica e estudos, que o ser humano se defronta com algumas opções, de cujo equilíbrio depende a sua saúde mental: a) relacionar-se com o outro ou cultivar o narcisismo; b) evoluir pela liberação de suas tendências criadoras ou involuir pela vazão de suas tendências destrutivas; c) assumir a fraternidade ou praticar o incesto; d) optar pela individualidade ou pela conformidade gregária; e) submeter-se à razão ou agir de forma irracional.

Fromm destacou que o homem tem necessidades existenciais, além de ser portador de paixões que se vinculam ao seu caráter por meio de condições neurofisiológicas e sociais. Essas necessidades seriam: 1) um quadro de orientação e devoção; 2) enraizamento; 3) unidade; 4) eficácia; 5) excitação e estimulação; e 6) estrutura do caráter. A não satisfação dessas necessidades afetaria a saúde mental e colocaria em risco a paz social, pois, poderia desenvolver desde o homem apático e incapaz de produzir até o homem obstinado pela idéia de produção e poder a qualquer custo, ainda que isso significasse a destruição da vida.

Considero as obras de Erich Fromm como uma das fontes mais sensatas para se refletir sobre a natureza humana universal, bem como sobre as particularidades que moldam o seu caráter. Sua síntese sobre o assunto pode ser encontrada no livro Análise do Homem. Outras obras interessantes, na minha opinião, são: A Arte de Amar e Psicálise da Sociedade Contemporânea.

De uma maneira geral, toda tentativa de afetar o comportamento humano explora suas necessidades, desejos e emoções de amor e de medo. O detentor do conhecimento sobre a natureza humana pode tornar-se um hábil manipulador, razão pela qual Erich Fromm desconfiava do interesse das empresas por pesquisas comportamentais. Entretanto, a única arma efetiva contra a manipulação é o conhecimento da própria natureza visando ao autocontrole, caso não se queira ser controlado de fora.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Em busca de propósito

Nas vibrantes palavras de Feuerbach : “O propósito é o impulso vital consciente, optado e essencial, a visão genial, o ponto luminoso do conhecimento de si mesmo – a unidade de natureza e espírito no homem. Quem possui um propósito, possui uma lei sobre si; ele não só se conduz, mas é conduzido. Quem não tem propósito não tem pátria, não tem sacrário. A maior desgraça é a falta de propósito. Mesmo quem se propõe metas comuns se sai melhor, ainda que não seja melhor, do que quem não tem nenhuma meta. A meta limita; mas a limitação é o mestre da virtude.”

Einstein, o grande cientista e sábio, alertou-nos sobre as armadilhas da miséria espiritual que procura esconder a falta de propósitos nobres: “Quando eu era um jovem razoavelmente precoce, fiquei impressionado com a futilidade das esperanças e dos esforços que atormentam incansavelmente os homens durante toda a sua vida. Além disso, muito cedo percebi a crueldade dessa busca, que naquele tempo era muito mais cuidadosamente disfarçada pela hipocrisia e por palavras brilhantes. Todos estavam condenados a participar dessa busca pela mera existência de seus estômagos. O estômago talvez se saciasse com essa participação, mas não o homem, na medida em que é um ser pensante e dotado de sentimentos.” Ele só encontrou sentido para sua vida quando concentrou suas energias na busca dos segredos da natureza.

As civilizações que em algum momento se fizeram respeitar, e os países que se fazem respeitar atualmente, esmeraram-se na escolha de propósitos nobres e visões de futuro inspiradoras. Os gregos atingiram o apogeu em termos de beleza e de filosofia e, mesmo após a extinção das condições que propiciaram esse apogeu, seus ideais continuam sendo modelo para o mundo. Os norte-americanos viram-se como a cidade de Deus, situada sobre o monte, a iluminar a Humanidade. O Japão, a partir de 1868, estabeleceu o propósito de tornar-se poderoso, rico e justo, tendo reorientado os meios para atingi-lo a partir de 1945. Se indivíduos, grupos e países precisam de propósitos nobres para mobilizar suas energias, qual é o propósito capaz de mobilizar o povo brasileiro?

A título de indução, inicio uma tempestade de idéias que, por meio do diálogo amplo, poderá consolidar uma estratégia eficaz para orientar a luta de cada um de nós em benefício de todos. Um propósito assim compartilhado constituiria a palavra de ordem alojada indelevelmente nos corações e nas mentes dos brasileiros, funcionando como guia invisível nos momentos difíceis. Propósito permanente: 1) Realizar o potencial de dignidade do povo brasileiro, mensurado pelo Índice de Desenvolvimento Humano -IDH. Meios: 1.1) Promover a educação universal e gratuita até o nível universitário básico; 1.2) Garantir oportunidade de trabalho para todos, inclusive como forma de combate à ociosidade e de inclusão social; 1.3) Promover campanhas maciças de saúde preventiva; 1.4) Incentivar o espírito empreendedor, incluindo a necessária isenção de impostos para negócios nas fases de gestação; 1.5) Fazer ampla mobilização para a restauração e manutenção do meio ambiente e de relações sociais saudáveis. Monte grupos de estudos e participe deste levantamento de idéias.