sábado, 12 de dezembro de 2009

Gestão científica

A gestão, para ser científica, deve inspirar-se no método e no instrumental de apoio ao pensamento usado pelos cientistas e outros criadores sistemáticos de conhecimento, de forma contextualizada e sem dogmas (ver o filme O Óleo de Lorenzo). Na sua versão clássica, esse método foi descrito por Descartes, Francis Bacon, Galileu Galileu e Newton. Na sua versão moderna ele pode ser encontrado, principalmente, na forma de pensar de Einstein, conforme registrado no seu livro Notas Autobiográfias. Segundo Deming, no livro A Nova Economia, devem-se combinar quatro elementos, agindo de forma interligada, para atualizar uma forma de pensar, de agir e de sentir para se conduzir um gestão científica: pensamento estatístico, psicologia, visão sistêmica e teoria do conhecimento.

Taylor, o homem que iniciou essa forma de gestão no final do século XIX e início do século XX (ver seu livro Princípios de Administração Científica), imaginava trabalhadores sadios, operando em ambientes saudáveis, chegando em casa descansados e voltando a trabalhar com disposição a cada dia. Eles deveriam ser selecionados cientificamente, seguir o melhor método de trabalho e usar as melhores ferramentas. Assim, poderiam ganhar e produzir mais do que nas situações em que se ignora a ciência do trabalho. Ele cometeu a indelicadeza de registrar que, para certas atividades padronizadas, seriam necessários trabalhadores com força e inteligência bovinas. Defendia que os trabalhadores do seu tempo não tinham preparo para pesquisar seus métodos de trabalho, embora devessem ser consultados e recompensados financeiramente sempre que contribuíssem com uma boa idéia. A coordenação técnica desse sistema deveria ser deixada a cargo de especialistas que, hoje, são os engenheiros de produção.

Atualmente, nas melhores versões da gestão padrão mundial, todos os trabalhadores são treinados para dominar as ferramentas e os conceitos da gestão científica. Sob esta perspectiva, todos são cientistas, engenheiros, e gerentes em ação em suas respectivas áreas. A versão considerada mais avançada atualmente, o Sistema Toyota de Produção, incorporou as exigências sociais para se lidar com o ser humano de uma forma integral, levando-se em consideração as necessidades que decorrem de suas condições de existência. Confirmou-se a possibilidade de incorporação dessa forma de pensar e trabalhar pela aprendizagem intercultural (ver o filme Fábrica de Loucuras), criando uma nova base para os sistemas de produção e de gestão.

A gestão científica, quando vista de forma dogmática, pode trazer grande confusão, conforme verificada na tentativa de se conduzir um socialismo científico na antiga União Soviética. Ela foi atualizada no Japão, em 1996, com o nome de TQM – Gestão pela Qualidade Total. Nesse formato, assume-se a necessidade de se levarem em consideração os interesses dos diferentes públicos que interagem com as organizações, além do meio ambiente, e que se lance mão de um instrumental de apoio ao pensamento apropriado às circunstâncias. A boa gestão e a boa educação serão sempre científicas, no sentido mais universal do termo. Hoje poderíamos falar, de forma mais apropriada, de uma Gestão da Dinâmica do Conhecimento.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

O melhor produto do mundo

No final do Século XIX a Alemanha foi humilhada pela Inglaterra: teve de colocar o selo Made in German nos produtos que exportava para aquele país. Como ela tinha fama de produzir produtos ruins, isso era uma espécie de proteção dos cidadãos ingleses, além de uma barreira comercial eficaz. A Alemanha reagiu. Made in German tornou-se, como o tempo, um selo de excelência.

Logo após a Segunda Guerra Mundial,o selo Made in Japan indicava que o produto era ruim e barato. Uma namorada seria humilhada se recebesse um presente com esse rótulo. O Japão reagiu. O selo passou a significar excelência, alta tecnologia e preços compatíveis com o que se comprava. No Japão, a qualidade do produto atingiu excelência padrão mundial, assim como sua manufatura.

Entretanto, Deming (1900-1993), o homem que introduziu o conceito de qualidade no Japão do Pós-Guerra, sempre afirmou que a qualidade não se refere a produto, mas a pessoas. Sob sua perspectiva (veja-se o seu livro A Nova Economia), ele teria ensinado aos japoneses, embora não tivesse consciência disso no início, o "Saber Profundo", composto de quatro elementos interdependentes: visão sistêmica, pensamento estatístico, psicologia - do indivíduo e do grupo - e teoria do conhecimento.

Deming acretiva que o melhor produto do mundo é um cidadão classe mundial. Essa classe mundial não se caracterizaria por algo como ser o melhor do mundo, mas ser o melhor de si mesmo, sempre aprendendo com o mundo. Alguns desses cidadãos, em função de realizarem o seu potencial, poderiam assumir a liderança pelo conhecimento. Eles teriam a função de desenvolver outros líderes, num processo em cadeia. O resultado seria um mundo melhor em que as pessoas, orientadas por um princípio - a qualidade -, tornar-se-iam melhores pelo conhecimento produtivo: de si mesmas, do outro e do meio ambiente.

Assim, dominando a dinâmica do conhecimento, poderiam produzir bens, serviços e sentimentos de qualidade, com produtividade. O sonho de Denming, evidentemente, não se realizou. Mas ele fez a sua parte de sonhador que tinha os pés no chão. Inoculando o setor produtivo com a necessidade de trabalhar com conhecimento profundo, abriu as portas para que o sonho de Sócrates se concretizasse, pelo menos em parte.

Sócrates acreditava que só o conhecimento poderia libertar as pessoas. Se alguém, conhecendo a verdade, atuasse contra ela, deveria estar doente. Porém, Sócrates concentrou-se no conhecimento de si mesmo. Já Deming, integrando os conhecimentos significativos ocorridos desde então, enxergou a integração da filosofia, da ciência, da técnica e dos negócios. O homem, pois, poderia tornar-se excelente, realizando os seus potenciais, pela integração dos conhecimentos dos quatro elmentos anteirmente citados.

Hoje, percebemos que ainda vale a pena insistir na ideia de formar o homem como o melhor produto possível. Contudo, há distorções que precisam ser combatidas. O homem tem sido visto apenas como um consumidor cujos hábitos são estudados meticulosamente para fazê-lo consumir ainda mais. Porém, o Planeta está dando sinais de que esse produto mal formado - o homem como consumidor - o está destruindo. Os sinais são evidentes.

Há, portanto, que se retormar a visão grega da paideia - a formação do homem integral -, para que se preserve o Planeta para os seus futuros ocupantes. Sem dúvida, o melhor produto que se pode formar, na escola como nas empresas, ainda é o homem consciente de suas responsabilidades.