segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

5S: Uma Interpretação Avançada

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RESUMO
Em maio de 1991, o engenheiro Itiro Miyauchi apresentou, formalmente, o 5S ao público brasileiro, em nome da JUSE - Associação dos Cientistas e Engenheiros Japoneses. Ele veio ao Brasil a convite dos professores Vicente Falconi Campos e José Martins de Godoy, ambos atuando, na época, no Projeto Qualidade da FCO - Fundação Christiano Ottoni,ligada à Escola de Engenharia de UFMG. Os professores Falconi e Godoy incumbiram-me de interpretar o 5S para a realidade brasileira, o que foi feito e divulgado por meio de cursos, apostilas e livros. Já naquela época pressenti a universalidade do 5S como fazendo parte da civilização e da cultura padrão mundial. Nos últimos 13 anos dediquei-me a encontrar o conceito unificador da gestão padrão mundial, tendo concluído que ele gravita em torno da Dinâmica do Conhecimento. O 5S, conforme o vejo agora, é uma forma de introduzir esse conceito de forma compartilhada, sob um voluntarismo induzido.


1. INTRODUÇÃO
Qualidade, produtividade, cooperação, competição, sustentabilidade, inovação e empreendedorismo são palavras da moda.

Os sistemas de gestão evocados para colocar tais palavras em prática são, entre outros: gestão para resultados, manufatura classe mundial (wcm), lean management e Sistema Toyota de Produção tudo isso, teoricamente, sintezado no TQM - Gestão pela Qualidade Total.

São muitos os nomes dados a aspectos acidentais, ou secundários, que estão em torno de uma essência. Entretanto, como compreender a essência para não alimentarmos o caos de terminologias que mudam de acordo com o soprar dos ventos?

Um dos consensos é que estamos em plena era do conhecimemto, e que esse conhecimento deve referir-se, antes de tudo, ao método e às pessoas que o usam, individualmente e em equipe. O método, adaptado às circunstâncias, é uma espécie de instrumento de coordenação das forças humanas criativas. Isso, levando em conta as restrições relativas às condições de sustentabilidade do Planeta.

Creio que a essência acima referida pode ser sintetizada na Dinâmica do Conhecimento. O exercício dessa dinâmica depende de hábitos, virtudes e um refinado senso crítico para planejar, executar e julgar.

Assim, o 5S, que se refere aos sensos de utilização, ordenação, limpeza, saúde e autodisciplina, pode e deve ser usado como uma introdução à preparação do ambiente da qualidade, mas tendo em vista a gestão da dinâmica do conhecimento.

Todos os elementos universais da gestão podem ser sintetizados no 5S, ou pode-se dar algum outro nome a esses elementos, mas tendo em vista prepararar as pessoas, a organização humana formal e a sociedade em geral para a prosperidade sustentável.

As considerações acima apontam para a necessidade de um 5S Avançado para a consolidação de uma sociedade do conhecimento e da sustentabilidade.


2. 0 5S DIFUNDIDO NO BRASIL DESDE 1991
2.1 - O 5S Conforme o Recebi dos Japoneses
O 5S que o Brasil recebeu dos japoneses em maio de 1991 já era um 5S avançado para a época, mas nem todos estavam preparados para compreendê-lo. A apostila que o engenheiro Ichiro Miyauchi nos trouxe, em nome da JUSE - Associação Japonesa de Cientistas e Engenheiros - foi traduzida do ingLês para o português como "5S: Conceitos para Revolucionar o Gerenciamento".

O nome era perfeito, mas sofreu restrições devido à palavra "revolucionar". Com certeza o título poderia ter continuado o mesmo até hoje se ele tivesse sido traduzido por 5S: Conceitos para Inovar o Gerenciamento, pois a palavra inovação está na moda.

2.2 - O 5S Conforme o Interpretei para o Brasil
Após testar a apostila do engenheiro Miyauchi em dezenas de empresas, e após consultá-las, conclui que o meu livro a respeito deveria chamar-se 5S: O Ambiente da Qualidade.

Os diversos S's - Seiri, Seiton, Seisou, Seiketsu e Shitsuke -, após sua essência ter sido compreendida, foram traduzidos por Senso, seguido de: Utilização, Ordenação, Limpeza, Saúde e Autodisciplina.

Essa interpretação já levava em consideração os estudos realizados sobre filosofia, cultura e demandas de sustentabilidade do Planeta, além da situação específica do Brasil, em que o desperdício, em todos os níveis e áreas, mostrava-se uma cultura viciosa. Quanto a isso, infelizmente as coisas ainda não mudaram de forma significativa.

2.3 - O 5S Conforme o Enxerguei em Outras Fontes
Entre as fontes nas quais enxerguei o 5S, cito:
2.3.1 - Sócrates
Sócrates alertou-nos que é preciso conhecer para agir melhor. Ele destacou a necessidade do conhecimento de si mesmo, embora não tenha dado instrumentos práticos para tal. O conceito de sustentabilidade está implícito em sua filosofia, que pressupõe que o homem mais rico é aquele que, embora esteja atualizado quanto aos seus potenciais, inclusive de criar riquezas, necessite de pouco para viver de forma saudável.

2.3.2 - Platão
Platão contribui com as virtudes cardeais, que deveriam fazer parte da educação de todo cidadão, a saber: justiça, coragem, temperança e sabedoria. Esse conjunto, embora seja clássico, não é instrumentalizado para a educação imdediata. Assim, ele torna-se mais uma teoria bonita em busca de um método para sua implementação.

2.3.3 - Aristóteles
Na ética a Nicômaco, Aristóteles apresenta os fundamentos da vida feliz e saudável, mas sua terminologia não apresenta facilidade de uso no dia-a-dia. Fica claro, contudo, que ele vê na autodisiciplina a qualidade necessária para que o homem se autorrealize na sociedade.

2.3.4 - Os Samurais
Eles sintetizaram filosofia e religião em preceitos para a vida, mas, igualmente, não ofereceram uma forma instrumental apropriado à educação em massa. As qualidades que estavam implícitas em sua filosofia são a autodisciplina, a honra, a coragem, a busca da perfeitção, entre outras, conforme se pode ver no filme O Ùltimo Samurai.

2.3.5 - Sigmundo Freud
Surpreendetemente, verifiquei que Freud, no seu livro O Mal Estar na Civilização, identificou cinco palavras-chave para explicar o eixo da civilização, a saber: parcimônia, ordem, limpeza, beleza e autodomônio.

Estranha coincidência, até parece que os japoneses se inspiraram em Freud para formular o 5S. Porém, pode ter sido apenas uma coincidência que veio a comprovar a universabilidade do conceito.

2.3.6 - Os Estudos sobre Sustentabilidade
Esses estudos, mais uma vez, reforçaram que o desenvolvimento dos sensos de: utilização, limpeza, saúde e autodisciplina, estão no centro da educação para a cidadania e sustentabilidade.

2.3.7 - Conclusão preliminar
Realmente, o 5S é portador dos conceitos fundamentais para revolucionar, como queria o engenheiro Miyachi, ou criar o ambiente da qualidade, ou, usando a termilogia atual, inovar: a educação, a gestão, a cidadania. Porém, ficou faltando integrá-lo ao conceito de conhecimento.


3. REINTERPRETANDO O 5S NO CONTEXTO DA DINÂMICA DO CONHECIMENTO
3.1 - Buscando em Einstein
Descartes, Francis Bacon, Galileu Galileu e Newton preocuparam-se em descrever o método para se adquirir conhecimento, às vezes chamado de método científico. Frederick Taylor propõs que esse método fosse usado nas fábricas, o que implicou um grande salto na produtividade no século XX.

Porém, coube a Einstein dar a versão mais avançada do método científico e, ao mesmo tempo, apresentá-lo da forma mais simples e concisa. Ao invés de apresentar o método de Einstein, que pode ser visto diretamente no seu livro Notas Autobiográficas, e no livro de Gerald Holton "A Imaginação Científica", ele será apresentado já no contexto da dinâmica do conhecimento, a seguir.

3.2 - A Dinâmica do Conhecimento
Essa dinâmica está em curso na História, seja de forma implícita, ou explícita. Começa-se sempre pela insatisfação com a situação atual, e busca-se dar um solução que, se repetitiva, pode ser padronizada por meio de hábitos e/ou documentos e, atualmente, na forma de softwares.

A aprendizagem parte da imitação, avança com a agregação de pequenas melhorias e, se necessário ou conveniente, culmina na inovação, no sentido de ruptura com o existente. Para tal, o talento individual, combinado com o trabalho em equipe, interage com a inteligência disponível globalmente para dar soluções às insatisfações detectadas.

O ciclo da dinâmica do conhecimento começa com as idéias, que podem ser buscadas em qualquer lugar, com qualquer pessoa. Estas são analisadas, classificadas e hierarquizadas para alimentar experimentos. Se os resultados são satisfatórios, os processos segudios são sistematizados para a operação automática, manual ou por meio de máquinas. Os resultados continuam sendo continuamente avaliados para correção e/ou novas e melhores soluções.

Por analogia com o método de Einstein, a descrição do método ficaria mais ou menos assim:

"As experiências básicas nos são dadas pela vida, ou buscadas intencionalmente. Envolvendo-nos com elas com a finalidade específica de compreender, ou de atingir um resultado, chega-nos, sem explicação, o axioma que, neste casom equivale á ideia brilhante portadora da oportunidade a ser realizada. A ideia, ou axioma, apresenta-se como algo que se impõe a nós e, eventualmete, passamos a acreditar nela com muita força. Então, analisamos as consquências lógicas dessa idéia, e buscamos os meios necessários para confirmá-las por meio de experimentos. Em seguida, sistematizamos a solução no processo produtivo que, inserido no mercado, deve continuar continuamente sendo analisado para sua manutenção e melhoria, desde pequenas melhorias até grandes rupturas com a situação existente."

A descrição acima, feita por analogia, é a descrição geral do método. Einstein ainda nos brindou com a lembrança de que tudo é acionado por seres humanos que, como tais, exigem um ambiente de de senbilidade ás suas condições de existência que inclui, entre outros fatores: fé, amor ao belo e a alegria da descoberta de soluções. Portanto, de acordo com a vocação de cada um, e sob a coordenação de um método, pode-se fazer realizar o potencial humano de cooperação para se alcançar a prosperidade a ser compartilhada, respeitando as restrições que a própria natureza impõe aos empreendimentos humanos.


4. CRIANDO O AMBIENTE DO CONHECIMENTO PRODUTIVO
Entendo, agora, que é preciso criar o ambiente da qualidade como prerrequisito para se obter produtividade e sustentabilidade. Mas, sobretudo, é preciso preparar o ambiente para que todos realizem os seu potenciais de aprender e, assim, gerar conhecimento útil. E isso exige liderança.

A mobilização para a criação desse ambiente pode começar pelo 5S, usando-se como referência as experiFênicas das diversas empresas que o implementaram com sucesso, mas sempre atento ao fato de que ele não é um programa centrado em ações mecânicas. O movimento pode e deve ser usado para: a)reforçar a identidade da empresa; b) reforçar os bons hábitos e as qualidades inerentes ao cidadão produtivo; c)treinar o senso crítico na identificação e solução de problemas.


5. CONCLUSÃO
O Brasil precisa, urgentemente, tornar-se um País do Conhecimento. Sua sustentabilidade, alinhada com a sustentabilidade do Planeta, depende disso. O 5S, visto sob essa perspectiva avançada, equivale ao primeiro passo para se criar uma base sólida para o desenvolvimento de bons hábitos, virtudes e senso crítico, sob a coordenação do método científico. Visto sob a perpspectiva da Dinâmica do Conhecimento, ele pode mesmo revolucionar, ou inovar a gestão e a educação em larga escala.


6. BIBLIOGRAFIA
MIAUCHY, Itiro. Concepts for Revolutionary Management.
SILVA, João Martins da. 5S - O Ambiente da Qualidade. Editora FCO, 1994.
SILVA, João Martins da. 5S Para Praticantes. Editora FCO, 1995.
SILVA, João Martins da. O Ambiente da Qualidade na Prática - 5S. Edtitora FCO, 1996.
SILVA, João Martins da. Conceitos para Aprender, Conviver e Liderar. Editora FCO, 1998.