terça-feira, 21 de junho de 2011

Algumas expressões do método científico

Apontamentos preliminares para a compreensão da Dinâmica do Conhecimento


1. O Método Segundo Descartes
Descartes viveu no século XVI, uma época de profundas transformações na visão de mundo do homem ocidental, e de intensas descobertas. Ele via muitas buscas, muitos caminhos, e nenhum caminho seguro; por isso propôs um método para orientar a aplicação do bom senso, mais tarde chamado de método cartesiano ou método científico. Ele acreditava que o conhecimento decorreria da combinação de intuição, análise e síntese. Analisou os preceitos da lógica do seu tempo e retirou deles quatro pontos que constituiriam o seu famoso e, segundo alguns, banal, método científico. Ele o chamou de os quatro preceitos.

“O primeiro era o de jamais acolher alguma coisa como verdadeira que eu não conhecesse evidentemente como tal; isto é, de evitar cuidadosamente a precipitação e a prevenção, e de nada incluir em meus juízos que não se apresentasse tão clara e tão distintamente a meu espírito, que eu não tivesse nenhuma ocasião de pô-lo em dúvida.

O segundo, o de dividir cada uma das dificuldades que eu examinasse em tantas parcelas quantas fossem possíveis e quantas necessárias fossem para melhor resolvê-las.

O terceiro, o de conduzir por ordem meus pensamentos, começando pelos objetos mais simples e mais fáceis de conhecer, para subir, pouco a pouco, como por degraus, até o conhecimento dos mais compostos, e supondo mesmo uma ordem entre os que não se precedem naturalmente uns aos outros.

E o último, o de fazer em toda parte enumerações tão completas e revisões tão gerais, que eu tivesse a certeza de nada omitir.”


2. O Método Segundo Bacon
Francis Bacon (1561-1626) teria sido o inventor do método experimental, fundador da ciência moderna e do empirismo. Ele acusou a filosofia, até os seus dias, de ter sido inútil para o bem-estar da humanidade, pois se perdia em disputas em torno de palavras. Para ele, só havia uma única fonte de verdade: a experiência; porém, a experiência deveria ser planejada, e não obtida ao acaso.

Bacon atacou os “ídolos” e noções falsas que impediam a busca de conhecimentos úteis à humanidade. Ele dizia que “os ídolos e noções falsas que ora ocupam o intelecto humano e nele se acham implantados não somente o obstruem, a ponto de ser difícil o acesso à verdade, como, mesmo depois de seu pórtico logrado e descerrado, ressurgirão como obstáculo à própria instauração das ciências, a não ser que os homens, já precavidos contra eles, se cuidem o mais que possam.”

Esses ídolos seriam de quatro tipos: “da tribo”, “da caverna”, “do foro” e “do teatro”. Os ídolos da tribo teriam como causa a falibilidade intrínseca à natureza humana, que tende a tomar por verdade os dados imediatos dos sentidos. Os ídolos da caverna teriam como causa a conformação de cada indivíduo em particular. Uns, por exemplo, tendem a destacar as diferenças, enquanto outros tendem a destacar as semelhanças, confundindo a realidade com a sua percepção, como na fábula da caverna, de Platão. Os ídolos do foro (ou do mercado, ou da feira) seriam devidos a questões de semântica, quando disputas e acordos aparentes sobre o significado das palavras impedem a comunicação eficaz. Finalmente, os ídolos do teatro teriam suas causas nos sistemas filosóficos, e em regras falseadas de demonstração. Esses sistemas filosóficos, como puras invenções teatrais, impediria os seus seguidores de buscar a verdade com espírito crítico. Entre esses sistemas cita, com especial ênfase, o de Aristóteles e o de Platão.

O método para buscar a verdade estaria na teoria da indução, exposta no Novum Organum, e que distingue a experiência vaga da experiência planejada e documentada. A primeira corresponderia às noções adquiridas pelo observador quando opera ao acaso; a segunda corresponderia ao resultado de experimentos intencionalmente realizados. Ele propôs o uso de tabelas de investigação como núcleo central do seu método. Os dados das experiências deveriam, então, ser coletados de acordo com suas características de afirmação ou negação, e da correlação entre variáveis. A partir da pesquisa de casos particulares, far-se-iam induções para se chegar a verdades mais gerais. Bacon instituiu um certo pragmatismo científico altamente produtivo, tendo recebido os apelidos de filósofo da idade industrial e filósofo da ciência planificada.


3. O Método Segundo Galileu e Newton
Galileu é conhecido como o criador da física moderna, por ter desvendado as leis do movimento; foi, também, um grande astrônomo. Sua contribuição definitiva para a humanidade, entretanto, foi a explicitação de um método científico contendo três princípios.

O seu primeiro princípio consiste em observar os fenômenos na forma como ocorrem, sem deixar-se influenciar por qualquer tipo de preconceito. Quando ele aperfeiçoou o telescópio, observou os astros deixando de lado a teoria da perfeição dos corpos celestes, uma teoria aristotélica tida como sagrada em sua época, e pôde comprovar que eles não eram mesmo perfeitos.

Seu segundo princípio baseia-se na experimentação como fonte da verdade, e na não aceitação de qualquer outra explicação.

Seu terceiro princípio estabelece que o correto conhecimento da natureza exige a criação de modelos matemáticos sobre o fenômeno.

Newton (1642-1727), adotou a exposição de Bacon do método científico para a pesquisa da natureza. Na sua obra Óptica afirma que o método científico consiste em “fazer experimentos e observações, e em derivar conclusões gerais das mesmas mediante indução, e em não admitir objeções contra as conclusões, exceto as que procedem de experimentos ou de certas outras verdades”. Em seguida à análise dedutiva seguir-se-ia a síntese, que consistiria em “assumir as causas descobertas e os princípios estabelecidos e, por seu intermédio, explicar os fenômenos que procedem deles e demonstrar as explicações”.

4. O Método Segundo Thomas Edison
Thomas Edison foi um autodidata em termos de aprendizagem, tendo dominado e colocado em prática os princípios da ciência de sua época. Criou uma organização específica para a invenção e melhoria de invenções, tendo sido titular de cerca de 1090 patentes.

Seu método foi descrido por seu amigo Henry Ford, com as seguintes palavras:

“Seu processo é sempre o mesmo. Em primeiro lugar determina exatamente o objetivo que pretende alcançar. Algumas vezes ele tentava melhorar projetos parcialmente realizados, como fez com a máquina de escrever, telefone e mais uma centena de aparelhos.

Em qualquer hipótese, seu primeiro cuidado é estudar profundamente tudo que se sabe sobre o assunto e comprovar todo fato que chega ao seu conhecimento. Algumas vezes ele próprio faz as experiências, mas na maioria das vezes escreve o que deseja numa folha de papel amarelo e a entrega a um ajudante.

Os ajudantes registram os resultados das experiências feitas durante o dia em livros que, todas as noites, são remetidos a Mr. Edison. (...)

Se as experiências não comprovam o que ele espera, escreve notas e indicações; se verifica que não vale a pena continuá-las, muda imediatamente de orientação. Está sempre tirando provas. (...)

Edison nunca dá instruções verbais, pois lhe é muito mais fácil escrever e desenhar que falar; também não costuma ditar, porque acha que se exprime com mais rapidez e clareza escrevendo com seu próprio punho, que ditando. (...)

(...) Considera uma experiência apenas como uma experiência; se não obtém o resultado que esperava, de qualquer forma ela lhe serviu como indicação dos elementos que devem ser postos de lado e, então, gradualmente, por um processo de eliminação, descobre o que deve fazer. (...).

Se se trata de matéria inteiramente desconhecida, Edison faz experiências no intuito de comprovar suas teorias a respeito do que lhe parece ser mais conveniente. (...)”.

Enquanto Édison creditou o seu sucesso a 99% de transpiração e 1% de inspiração, NakaMats, o maior inventor do mundo, ainda vivo, credita o seu sucesso à “ikispiração”, incluindo os três elementos da criação: suji a teoria do conhecimento, pika, ou inspiração e iki, ou praticabilidade, viabilidade e negociabilidade.

Segundo Nakamats, as facilidades oferecidas pelo computador eliminaria os 99% de transpiração, transferindo o diferencial de sucesso para a inspiração. Ele diz que os pesquisadores muitas vezes têm problemas com pika, pois se concentram demais em um elemento particular. Na sua opinião, a inspiração acontece para as pessoas ecléticas, familiarizadas com muitas coisas: arte, música, ciência e esportes.

Os métodos de Edison e NaKamats, como se depreende da exposição anterior, consiste em planejar, realizar o experimento, analisar os resultados e tomar ações corretivas para a correção dos rumos da pesquisa. Édison enfatizou o trabalho árduo, o estudo e a busca obstinada de objetivos previamente estabelecidos, porém sem dogma. NaKamats enfatizou a importância da inspiração, da compreensão do próprio sistema de produção de idéias, além de se levar em conta as necessidades reais do mercado, para que o conhecimento redunde em bens e serviços comercializáveis. Como veremos a seguir, a JUSE procurou formular um método que incorporasse a experiência de todos que se dedicaram de forma sistemática à aprendizagem, melhoria e inovação.

5. O Método Segundo a JUSE
A JUSE – Japanese Union of Scientists and Engineers, inspirada em Deming , adotou a sigla PDCA (plan, do, chek, act) como a síntese de um método geral de aquisição de conhecimento, seja técnica ou gerencial. O PDCA, que Deming mais tarde rebatizou de PDSA (plan, do, study, actc), passou a ser visto como o método dos métodos, visando a criar, manter e melhorar os resultados da empresa. Deming referiu-se a ele como um fluxograma de aprendizagem e melhoria contínua.

Um dos autores, em missão de aprendizagem gerencial ao Japão, em 1993, ouviu o seguinte depoimento do presidente de uma importante empresa multinacional japonesa: “As pessoas que vêm ao Japão parecem não estar preparadas para entender o que, realmente, estamos fazendo. Quero deixar claro que estamos dando a cada operário as armas de Einstein e Galileu Galilei”. Em seguida ele ilustrou como, apesar de não falar português, ensinou um grupo de pessoas a utilizar a metodologia científica numa empresa brasileira, com o agravante de os operários serem analfabetos. Com isso, demonstrou que não existe limite algum ao ensino do método científico, desde que se queira fazê-lo, partindo-se da realidade do aprendiz.

O PDCA consolidou-se como uma forma instrumental do método científico, aplicável em quaisquer situações, assumindo diferentes graus de complexidade. A ele podem-se agregar ferramentas de apoio selecionadas, de acordo com o grau de dificuldade do problema e formação intelectual do grupo. Quando isso é feito, o podem-se fazer referências a métodos e programas derivados, tais como: MASP, CEDAC e Seis Sigmas. Contudo, a dinâmica do conhecimento inclui o PDCA, e o ultrapassa.