quarta-feira, 22 de abril de 2015

Opinião, crença e saber

Afirmou Immanuel Kant que: “O considerar algo-verdadeiro (...) possui os seguintes três graus: opinar, crer e saber.” A opinião é tanto subjetiva quanto objetivamente insuficiente. A crença, embora seja subjetivamente suficiente, é objetivamente insuficiente. Já o saber é tanto objetiva quanto subjetivamente suficiente.

Esses conceitos representam um bom critério para a escolha de líderes, a partir de seus discursos e práticas. Os botequins estão cheios de bêbados que têm opinião sobre tudo. Suas opiniões são tão firmes quanto as próprias pernas: - desabam diante do primeiro obstáculo. Os partidos políticos estão cheios de crentes nas palavras dos seus líderes. Essas crenças podem ser tão fortes que o indivíduo nunca muda de partido, mesmo diante das maiores evidências de que seus líderes são lobos em pele de cordeiro. Já o saber é algo raro, mesmo entre aqueles que vivem exclusivamente dos frutos da atividade científica. Em verdade, todos nós temos muitas opiniões, algumas crenças e poucos saberes.

Alguns líderes têm o dom de “detectar” o que as pessoas querem ouvir. Com base nesse dom, montam o teatro e dominam o espetáculo com presença cênica irrepreensível. Para tanto usam, além da própria intuição, institutos especializados em detectar as últimas opiniões das pessoas. As opiniões flutuam e, aqueles que se orientam por elas, mudam seus discursos ao sabor do vento. Com o tempo acabam sendo desmoralizados.

Alguns líderes baseiam suas ações em princípios herdados, sem os questionar. Princípios ruins, herdados da tradição, embora sejam defendidos com a melhor das intenções, podem gerar resultados tão danosos quanto o pragmatismo que flutua ao sabor das opiniões. Todos os tipos de fanatismos, na filosofia, na política, na religião e na falsa ciência, levam à criação de sistemas que se impõem pela combinação de autoridade, tradição e força. Porque Platão e Aristóteles disseram isso ou aquilo, os escolásticos conduziram séculos de disputas sobre palavras, fazendo retardar a evolução do conhecimento humano.

Por outro lado, existem princípios que emergem cada vez mais poderosos, apesar de todos os ataques, e se despontam como necessários à condução da vida no meio de opiniões mutantes, crenças absurdas e falsos saberes. Neste sentido destaca-se a Regra de Ouro, que permeia todas as grandes religiões e filosofias, e se constitui no porto seguro das consciências limpas. Respeitar o outro, preferindo sofrer danos do que provocá-los, eis um princípio fundamental que mostra a sua efetividade sempre que praticado. Sem dúvida, trata-se de um excelente critério para se descobrir um bom líder.

A maioria dos autodenominados líderes, como sabemos, seguem o fluxo da opinião dos seus liderados tendo, eles próprios, meras opiniões sobre tudo. Alguns acreditam, de boa consciência, em princípios que herdaram dos pais, que herdaram de seus avós, e assim por diante. Outros, ainda, apegam-se à Regra de Ouro e buscam o conhecimento sem arrogância. Quanto àqueles que têm algum saber real, sua primeira postura é, como Sócrates, reconhecer que sabem muito pouco diante da complexidade do mundo. Essas pessoas, que são raras, não lutam pelo poder. Antes, propõem-se, quando chamadas, a prestar os serviços necessários ao bem coletivo.

Sabe-se que, ao se aplicar a dinâmica do conhecimento, pode-se partir de opiniões, crenças ou saberes prévios. Porém, só o ciclo completo envolvendo a ideação, a experimentação, a avaliação, a sistematização e a operação podem gerar conhecimento embutido nos bens, nos serviços e nos sentimentos exigidos pela vida de boa qualidade. Enquanto se está adquirindo conhecimento, entretanto, é necessário pautar a ação por princípios éticos fundamentais, testados pela História, como a Regra de Ouro. O verdadeiro conhecimento só se manifesta a longo prazo, sendo inevitável que nos esforcemos para dominar a dinâmica do conhecimento seja imitando, aperfeiçoando ou inovando.