segunda-feira, 9 de março de 2009

Aperfeiçoamento contínuo

Melhoria contínua, aperfeiçoamento contínuo, aprendizagem por toda a vida, kaizen, entre outras, são expressões e termos técnicos usados para explicar a filosofia de gestão que contribuiu para que o Japão ressurgisse das cinzas. Para concretizá-la, os japoneses sistematizaram um efetivo instrumental para o pensamento e a ação, de forma a capacitar permanentemente as pessoas como agentes da construção da riqueza nacional.

Em perspectiva histórica, o aperfeiçoamento contínuo tem base em filosofias e religiões que o adotam como parte da estruturação do caráter humano.

Confúcio, na China, referiu-se ao Grande Aprendizado, que consistia em dotar cada pessoa da consciência de que a ação transformadora deveria começar dentro de cada um, pela construção de um caráter ativo orientado para a transformação do ambiente em torno de si. A transformação do mundo seria o resultado final de uma cadeia de transformações a partir de agentes cívicos ativos e autoconscientes. Buda teria proposto e praticado a transformação do próprio caráter, para que ele se transformasse naquilo que era em potencial.

Tanto o confucionismo quanto o budismo foram copiados e adaptados pelos japoneses tendo em vista a construção de um Japão próspero e justo. O bushido – o famoso código dos samurais -, contém elementos do budismo e do confucionismo, adotando o aperfeiçoamento contínuo como filosofia de vida praticada em larga escala. O samurai deveria ser um homem integral, conhecedor de muitas artes, incluindo as artes marciais. Sua espada deveria ser mantida sempre impecável, assim como sua disposição e preparo para a luta inevitável.

No cristianismo, o aperfeiçoamento contínuo, do interior para o exterior, é um imperativo categórico. Toda tentativa de trabalhar com aparências, privilegiando o aspecto externo, foi combatido veementemente por Cristo. O belo, o verdadeiro, o justo e, acima de tudo, o amor, deveriam refletir a busca da perfeição espiritual, missão obrigatória de todo cristão.

Assim, não basta falar em métodos, ferramentas e técnicas para a melhoria contínua. É preciso adotar a idéia como uma filosofia de vida que leve em conta um profundo conhecimento da natureza humana para que se faça a conexão entre seu caráter atual e caráter ideal. Como valor estruturado por emoções profundas, a filosofia do aperfeiçoamento contínuo só pode ser transmitida pelo exemplo direto, mais do que pela pregação sem o correspondente exemplo.

Compreendida e aceita a filosofia, ressalta-se a necessidade do método, ele mesmo permeado pela filosofia que se quer colocar em prática. Surge, então, a figura do mestre, capaz de ensinar certo por linhas tortas. Um bom exemplo pode ser visto no filme Kartê Kid 1, em que o garoto Daniel aprende artes marciais enquanto faz atividades rotineiras como limpar e pintar uma cerca, sem que soubesse que o princípio necessário para o exercício do karatê estava embutida no trabalho aparentemente insignificante que estava realizando.

Na atualidade, o cansaço produzido pela constante necessidade de parecer e de ter está induzindo, ao que parece, a necessidade de ser. Aparentemente tudo está levando a que se adote uma filosofia de melhoria contínua do caráter, com a melhoria contínua do produto sendo apenas um meio e, ao mesmo tempo, o reflexo desse objetivo maior.

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