segunda-feira, 6 de julho de 2009

Simples, óbvio e difícil

Alguém já disse que “é óbvio, mas só para os sábios, que ser simples é a coisa mais difícil do mundo”. Outro sábio disse que “Tudo que é profundo é, em princípio, simples; mas, não é óbvio nem fácil”.

É muito difícil para o homem construir armas de alto poder destrutivo. É muito simples acionar os mecanismos de detonação dessas armas. Contudo, aquilo que parece mais simples – conhecer o próprio homem -, é muito difícil e, embora seja óbvio que isso é muito importante, quase ninguém o percebe. E assim caminha-se pela vida afora, desprezando-se o que é simples, não enxergando o óbvio e valorizando o que é difícil, embora o resultado final possa ser previsível de forma simples e óbvia: o desastre.

Frederick Taylor foi um engenheiro mecânico formado numa escala ruim, noturna, pois precisava trabalhar para sobreviver. Ele enxergou e praticou o óbvio – a organização racional da fábrica – e, com isso, fez a revolução da produtividade no início do século XX. Ele propôs que se pesquisasse a forma correta de trabalhar, se produzissem padrões simples e se treinassem todos os empregados para que pudessem fazer certo da primeira vez. Taylor, que também sabia produzir coisas complexas, teve de enfrentar a resistência dos operários e dos patrões para colocar em prática o simples e o óbvio.

Para enfatizar o fato de que Taylor era capaz de lidar com assuntos complexos, ressalte-se que ele teve de superar o conhecimento matemático da época para elaborar um modelo de corte de metais, o que exigiu que se inventasse a régua de cálculo. Ele levou cerca de 15 anos para dar conta do recado, mobilizando as melhores mentes que estavam ao seu alcance, nas melhores universidades americanas, incluindo Harvard. Ao final da pesquisa tudo ficou simples, e óbvio. Difícil mesmo continuou sendo convencer padrões e empregados de que tinham algum interesse em comum, e que deveriam lutar juntos pela aumento da produtividade, compartilhando os resultados com a sociedade.

Einstein resolveu um problema muito difícil, chegando a um modelo matemático simples sobre a relação entre matéria e energia. Esse modelo foi descoberto após muito esforço, pois não era óbvio. Entretanto, tornou-se óbvio que isso poderia ser usado para conservar ou destruir a vida. E o próprio Einstein, apreensivo de que Hitler se apossasse do segredo para escravizar e destruir, incentivou que um país livre tomasse posse dele primeiro, o que levou ao seu uso efetivo contra o Japão. Apertar o botão da bomba atômica foi simples. Difícil continua sendo convencer o ser humano de que os seus poderes mentais deveriam ser usados para enriquecer a vida e não para destruí-la.

Certa escola de alto prestígio tem um curso de engenharia muito difícil. Os alunos desse curso são vistos como zumbis que se dedicam dia e noite a estudar, o que os impede de viver. Muitos deles, após terminar o curso, passam a detestar engenharia. Alguns passam a descontar no próximo a frustração que desenvolveram, impondo a todos a maneira mais difícil de fazer qualquer coisa simples como sendo, obviamente, a mais digna da inteligência humana. Às vezes conseguem criar discípulos zumbis.

E assim caminha a vida, fazendo evoluir a tecnologia que facilita tudo e, ao mesmo tempo, escraviza o homem como alimentador de máquinas velozes. Como já disse alguém, o óbvio não ulula mais como antigamente, e o ser humano, cada vez mais inteligente, torna-se cada vez menos sábio, desprezando o simples para sentir-se importante com a sensação de dominar as coisas mais difíceis para, tornando-as simples, aumentar o poder de destruição da vida. É óbvio que isso é coisa de malucos!

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