segunda-feira, 13 de julho de 2009

Identidade

Todo ser humano precisa de identidade, própria ou tomada emprestada. Se própria, ele pode viver sozinho, se necessário, pois sabe quem é e para onde vai, ou pelo menos acredita nisso. Se emprestada, ele depende do grupo de uma forma mais intensa, o que pode torná-lo refém de erros e manipulações. Em geral a identidade própria combina-se com a identidade do grupo para dar ao homem um sentido para sua vida, um sentimento de que vale a pena viver e desenvolver as suas potencialidades.

A identidade, conforme pensada no plano corporativo, mas também válida para o indivíduo, é composta de missão, visão de futuro e valores. A missão refere-se ao objetivo qualitativo permanente assumido. A visão de futuro trata de um objetivo a ser alcançado num tempo previsível, podendo coincidir com a missão quando o tempo considerado for deixado em aberto. Os valores são os referenciais para a conduta, no plano qualitativo, expressando orientações para momentos de decisão críticos.

Uma declaração de identidade exige que se tenha, primeiro, vivido o que se declara ser, além de indicar aquilo que se pretende continuar sendo. Ela entrará em choque com a realidade, que poderá confirmá-la ou desmenti-la. Daí a necessidade de reflexão profunda antes de explicitá-la. Não havendo essa reflexão, melhor seria ‘ir levando’ até que se adquira maturidade suficiente, antes de declarar uma identidade falsa ou irrefletida. Contudo, ainda que não se a declare, ela está sendo observada o tempo todo pelo público próximo.

Certo empresário, após completar 45 anos de uma carreira considerada por todos como bem sucedida, resolveu estudar filosofia e outras ciências humanas. Concluiu que vivera uma identidade que valia a pena ser explicitada para facilitar o diálogo com os seus colaboradores. Ao explicitá-la, tirou o foco sobre si mesmo e colocou-a na sua empresa como serva da humanidade e do seu país. Consolidou uma missão, visão de futuro e valores universais, no seu caso alimentados por sua formação pessoal centrada em valores religiosos expressos na forma secular equivalente. Segundo esse empresário – o japonês Matsushita -, seu diálogo ficou mais fácil, tendo sido possível redirecionar o potencial humano corporativo para fins nobres compartilhados.

No plano individual, uma identidade nobre, expressa de forma genérica, poderia alimentar identidades particulares nobres, expressas com palavras apropriadas a cada indivíduo. Uma missão genérica poderia ser, por exemplo: “servir à Humanidade”. Uma visão de futuro poderia ser: “obter o reconhecimento do público pelo serviço realizado”. Os valores, expressos numa forma mais genérica possível, poderiam ser: “competência, integridade e solidariedade”. Essa proposta, embora deixe em aberto as palavras a serem usadas, trata-se de uma visão humanista compatível com o cristianismo.

Numa sociedade permeada pelos valores cristãos, espera-se que os líderes sejam servidores. Que o reconhecimento capaz de justificar a ação não venha somente do público mas, sobretudo, de uma consciência tranqüila pela realização do próprio dever. Sabe-se, ainda, que a ação deve ser, em primeiro lugar, competente, além de íntegra e solidária. Mas essa postura é compatível com qualquer filosofia ou religião que seja favorável à vida digna e abundante para todos.

Assumir e portar-se com esse tipo de identidade torna-se um ideal, e a própria justificativa de se viver num mundo que parece caótico e sem significado. No processo de construção dessa identidade, conforme acredito, manifesta-se a lei do amor universal e, portanto, o alinhamento com o Espírito Absoluto.

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