quarta-feira, 17 de junho de 2009

A qualidade como ideal

Qualidade é uma daquelas palavras que podem significar qualquer coisa quando isolada. Essa elasticidade torna-a uma daquelas ideias universais que estão presentes em todos os tempos e em todas as classes sociais, tais como, entre outras: verdade, beleza, bondade e justiça. Quase ninguém sabe definir essas palavras. Quando elas são pronunciadas em concordância com o fenômeno que representam, soam como um axioma que dispensa definição. Quando se quer resumir todas essas ideias costuma-se usar, indistintamente, a palavra qualidade.

Vistas sob um ângulo pragmático, qualidade significa simplesmente “aquilo que satisfaz” aos diversos quesitos colocados em questão em situações concretas. Sob um ângulo mais restrito, ela significa adequação ao uso. Entretanto, ela está na intercessão de vários interesses, de forma que só pode ser conseguida se satisfizer minimamente, e simultaneamente, os interesses dos atores em ação. Para contemplar essa realidade os japoneses preferiram, num dado momento, referir-se ao termo Qualidade Total, significando a qualidade vista sob todos os aspectos relevantes, levando-se em conta o interesse de todos os atores afetados: usuários, produtores, financiadores, meio ambiente, sociedade e governo.

Contudo, há os que preferem manter a palavra qualidade isolada, num primeiro momento, e mediante cada situação, acrescentar o adjetivo capaz de qualificá-la. Assim, pensa-se, primeiramente, numa qualidade como princípio universal e, em seguida, contextualiza-se o termo para situações particulares. Esquerda, direita e centro são favoráveis à qualidade; entretanto, a esquerda pensa, com frequência, numa qualidade a ser distribuída a todos, sem ônus, enquanto a direita pensa na qualidade a ser adquirida por quem pode pagar por ela e, na sua visão moderada, supõe que um ambiente de qualidade deve ser garantido a todos de forma que cada um possa lutar pela qualidade de vida superior que deseja obter.

Particularmente na economia de mercado – ou capitalismo -, a qualidade deve ser oferecida por todos que queiram obtê-la para si. O trabalhador deve oferecer o melhor de si para obter o maior salário possível. Os donos da empresa devem oferecer o melhor produto capaz de competir pela preferência do consumidor pelo maior preço que ele esteja disposto a pagar. O acionista espera obter o maior retorno sobre o capital investido, seja no curto ou no longo prazo. O governo, quando preocupado com o emprego, costuma oferecer condições de entrada que atraiam o capital e, ao mesmo tempo, tem a expectativa de que terá retorno em impostos, além de empregos para os trabalhadores. E daí por diante, cada um buscando o interesse próprio e, eventualmente, o interesse mais amplo da sociedade.

O religioso quer qualidade de vida permanente no futuro – no céu -. O ateu quer qualidade de vida aqui e agora. O filósofo religioso procura balancear o presente e o futuro, sabendo que tanta nesta vida quanto na outra é possível obter a tão desejada qualidade de vida. Entretanto, a qualidade concreta nesta vida exige trabalho árduo e disposição para a melhoria contínua de tudo, o tempo todo, com os devidos intervalos para descanso para manter a qualidade da saúde. Assim, a qualidade só pode ser conseguida no movimento de atualização de potenciais existentes, sejam eles manifestos ou latentes. Ela pode ser obtida aqui e agora, por exemplo, pela eliminação das barreiras de comunicação e de resíduos emocionais e físicos que infestam o ambiente. Pode, ainda, ser conseguida por meio de descobertas e invenções que promovam saltos de qualidade de vida.

A produtividade, especialmente a financeira, só pode ser conseguida para um certo patamar de qualidade. Ela só pode ser conseguida quando a própria gestão é de boa qualidade.

Nenhum comentário: