sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Alinhando meios e fins

Para alguns, o homem existe para viver no presente, de acordo com as circunstâncias que o condicionam. Sob essa perspectiva, basta ir levando a vida sem muita preocupação e planejamento, manipulando os meios disponíveis para atingir fins imediatos. O futuro cuidará de si mesmo na hora certa. Muitos vivem assim e se consideram felizes; outros se perdem.

Para outros, a condição racional do homem exige que ele parta dos fins que deseja atingir e que, a partir dai, pesquise e ordene os meios de que necessita para chegar à sua meta final, esta sendo subdividida em metas parciais, variando do curto ao longo prazos. Isso implica adaptar-se a circunstâncias imprevistas ao longo do caminho. O pensamento estratégico orienta, sob essa perspectiva, o planejamento estratégico.

Em ambos os casos há que ter fé em sentido amplo, isto é, acreditar naquilo que não se pode ver, que é o futuro. Mas, o futuro tanto pode ser imaginado e, a partir dai, construído sistematicamente, ou ignorado, porém buscado como consequência natural da solução dos problemas que se impõem a cada momento. Quando a palavra fé gerar desconfiança devido á sua ligação com motivos religiosos, usa-se a palavra confiança, seja na intuição, seja na razão humana, ou em ambas.

O quadro de referência, portanto, depende da educação introjetada pelo indivíduo. Ele pode agir o tempo todo baseado nas expectativas retiradas de sua condição imediata, esta podendo ser, inclusive, miserável; ou viver sob uma perspectiva histórica mais abrangente, o que fará com que enxergue muito além dos seus próprios interesses imediatos.

Sob o ponto de vista econômico, pode-se, com um pouco de raciocínio, resolver a questão de forma prática. Aqueles que nasceram na pobreza e melhoraram suas vidas, aproveitaram cada oportunidade para economizar e investir. Para eles, começa-se a ganhar dinheiro agora, ainda que sejam alguns centavos para, progressivamente, realizar o seu potencial de ganhar bilhões. Isso foi demonstrado, entre outros, pelo americano Benjamim Franklin e pelo brasileiro Barão de Mauá.

Na gestão de um sistema produtivo a questão torna-se bastante objetiva. Todo o sistema deve alinhar-se com o fim de tornar-se saudável em sentido amplo: econômico, financeiro, social e ambiental.  Deve-se ter em mente a cadeia produtiva como um todo, e ficar sempre atento ao alinhamento dinâmico de meios e fins. Isso exige muito esforço e inteligência, além de capacidade de liderar os seres humanos que estejam envolvidos no processo.

Contudo, é necessário aprender a andar antes de começar a correr. O treinamento para a compatibilização de meios e fins deve começar de forma simples, nas tarefas do dia-a-dia. Quanto a isso, existem tarefas necessárias, simples, e, eventualmente desestimulantes, mas que precisam ser feitas. Se mal planejadas, podem consumir mais tempo do que o necessário. Uma vez planejadas, além do seu efeito de treinar uma forma de pensar baseada na ordenação de meios e fins, o resultado positivo pode ser automatizado, seja pela aquisição de bons hábitos, seja por meio de softwares.

É necessário pensar de forma ampla a conexão de meios e fins. Se se pensa a respeito apenas sob uma ética pragmática, o ser humano, que é um fim em sim mesmo, pode tornar-se apenas meio, e tratado desdenhosamente como tal. Quando a saúde física e mental do homem é desdenhada, pode-se formar um  exército de pessoas cuja vida perde o sentido e, como tal, tornam-se disponíveis para aventuras revolucionárias. Sob essa perspectiva, quanto mais eficiência financeira, mais deficiência de ser. O homem, alienado de sua grandeza intrínseca, pode desesperar-se, mesmo quando tenha à sua disposição meios materiais excelentes.

É preciso ultrapassar a visão materialista, seja ela grosseira ou dialética, capitalista ou comunista, e pensar no homem integral. Esse homem precisa trabalhar, e pode até tornar-se um viciado em trabalho, tornando-se fonte de riquezas materiais. Mas, sobretudo, ele precisa autorrealizar-se. Isso o fará sentir que fez aquilo para o qual nasceu e, assim, encontrar a felicidade enquanto trabalha naquilo que gosta.

Esse alinhamento completo de meios e fins exige que o homem trabalhe e tenha momentos de ócio. Que, de preferência, faça aquilo de que mais gosta e que, ao mesmo tempo, aprenda a gostar daquilo que é obrigado a fazer diante das circunstâncias. Ele precisa disciplinar-se conscientemente - autodisciplina - indo muito além da disciplina imposta por qualquer autoridade. Ele precisa aprender a ter foco, agindo de forma altamente estruturada e, ao mesmo tempo, ser capaz de partir do caos aparente para ordená-lo da forma mais apropriada.

Resumindo, a capacidade de coordenar meios e fins, em sentido pleno, só está disponível para o homem que passou pelo processo de formação integral de sua personalidade. Ele é o homem educado para usar suas faculdades mentais e corporais visando a fins que podem ser tanto imediatos quanto de longo prazo. Talvez ele se torne, nos casos mais bem-sucedidos, um filósofo no pleno sentido da palavra, isto é, um amigo do conhecimento e da sabedoria.

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