segunda-feira, 4 de julho de 2011

Ética e gestão

Ética é um campo da filosofia. O resultado final dos estudos desse campo é uma máxima de orientação para as ações do dia-a-dia. Essas máximas são representativas de uma ética, ou visão de mundo.

A gestão trata da orientação racional da vida produtiva. Levada às últimas consequências, são elaborados processos ou sistemas projetados para se conseguirem certos resultados intencionalmente.

A ética orienta a gestão que, por sua vez, pressupõe uma ética. Que ética?

Há pelo menos três visões de mundo típicas que, na prática, conduzem a gestão da vida. A ética individualista, a ética coletivista e a ética católica romana. Esta é a classificação feita pelo filósofo Henry Lefebvre (veja-se o seu livro Lógica Formal e Lógica Dialética), mas há outras formas de analisar o tema.

Max Weber (veja-se o seu livro A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo) defendeu a existência de duas éticas típicas: a que se orienta pela responsabilidade sem apego a resultados, e a que se orienta para resultados sem apego à responsabilidade. Esses são tipos extremos, mas, na realidade, não há espaço para a adoção desses extremos na sociedade democrática. Pelo menos não de forma permanente.

Se adotarmos o ponto de vista de Max Weber, o nome dado à gestão poderia incluir a ética envolvida. Por exemplo, poderíamos ter uma gestão:

1. pela Qualidade;
2. para Resultados.

A Gestão pela Qualidade foi o resultado da reflexão japonesa pós-Segunda Guerra, após aquele país ter falhado em sua Gestão para Resultados, usando meios militares. A Gestão para Resultados decorre de uma visão materialista do mundo, quando se assume que não importam os meios, desde que os fins sejam atingidos. Sob essa perspectiva, é um retrocesso que ignora as lições da História. Para que a distinção fique mais clara é necessário recorrer à filosofia, à religião e à política.

Os filósofos pressupõem que os estudos sobre ética devem fornecer um princípio geral para ação, como aquele enunciado por Imanuel Kant: aja como se a sua ação pudesse ser adotada universalmente. A religião parte de uma revelação ética. No cristianismo, por exemplo, além de sua síntese centrada no amor, há uma expressão de sua ética que coincide com a de várias outras religiões e filosofias: fazer ao outro aquilo que você gostaria que ele lhe fizesse. A política, por sua vez, tem geralmente uma agenda oculta. Os políticos são conhecidos, salvo exceções, por apregoar a ética que os seus eleitores são capazes de comprar, sem a responsabilidade de conduzir-se por ela em suas ações.

Na sociedade dita aberta (veja-se A Sociedade Aberta e Seus Inimigos, de Karl Popper),diz-se que a ética provém do mercado. Este, por sua vez, pressupõe a meritocracia, e nenhuma preocupação humanitária, embora não a proíba. O mercado, embora seus defensores argumentem pela não interferência do Estado, exceto quando essa interferência lhe for favorável, levaria à luta de todos contra todos, conforme esclareceu Hobbes, até que se estabelecesse um equilíbrio natural das forças envolvidas. No limite ele se autodestruiria. Isso faz com que Karl Popper, um defensor de uma sociedade aberta civilizada, tenha como pressuposto a existência de regras mínimas para o jogo, isto é, uma ética que possa ser incorporada ao sistema legal vigente.

Creio que, no momento, há uma imposição de consenso que leve à sobrevivência, tendo em vista as condições de existência no Planeta. A sobrevivência do ser humano está em jogo. Constata-se que o Planeta está saturado quanto à sua capacidade de suportar o nivelamento do padrão de vida reinante nos países que mais consomem recursos. Reconhece-se que o consumismo está consumindo, literalmente, a Terra, e que é necessário adotar uma ética da sustentabilidade.

Portanto, torna-se necessário adotar uma Gestão da Dinâmica do Conhecimento como campo neutro para se discutir uma eventual Gestão pela Qualidade ou Gestão para Resultados, ou Gestão para a Sustentabilidade. Enfim, deve-se investigar e descobrir o que é certo para que se possa cobrar a prática equivalente. E, nesse processo, deve-se partir de pressupostos e, em seguida, testá-los pela prática efetiva, e não apenas apregoá-los por meio de discursos, por mais bonitos que sejam.

Nenhum comentário: