terça-feira, 1 de dezembro de 2009

O melhor produto do mundo

No final do Século XIX a Alemanha foi humilhada pela Inglaterra: teve de colocar o selo Made in German nos produtos que exportava para aquele país. Como ela tinha fama de produzir produtos ruins, isso era uma espécie de proteção dos cidadãos ingleses, além de uma barreira comercial eficaz. A Alemanha reagiu. Made in German tornou-se, como o tempo, um selo de excelência.

Logo após a Segunda Guerra Mundial,o selo Made in Japan indicava que o produto era ruim e barato. Uma namorada seria humilhada se recebesse um presente com esse rótulo. O Japão reagiu. O selo passou a significar excelência, alta tecnologia e preços compatíveis com o que se comprava. No Japão, a qualidade do produto atingiu excelência padrão mundial, assim como sua manufatura.

Entretanto, Deming (1900-1993), o homem que introduziu o conceito de qualidade no Japão do Pós-Guerra, sempre afirmou que a qualidade não se refere a produto, mas a pessoas. Sob sua perspectiva (veja-se o seu livro A Nova Economia), ele teria ensinado aos japoneses, embora não tivesse consciência disso no início, o "Saber Profundo", composto de quatro elementos interdependentes: visão sistêmica, pensamento estatístico, psicologia - do indivíduo e do grupo - e teoria do conhecimento.

Deming acretiva que o melhor produto do mundo é um cidadão classe mundial. Essa classe mundial não se caracterizaria por algo como ser o melhor do mundo, mas ser o melhor de si mesmo, sempre aprendendo com o mundo. Alguns desses cidadãos, em função de realizarem o seu potencial, poderiam assumir a liderança pelo conhecimento. Eles teriam a função de desenvolver outros líderes, num processo em cadeia. O resultado seria um mundo melhor em que as pessoas, orientadas por um princípio - a qualidade -, tornar-se-iam melhores pelo conhecimento produtivo: de si mesmas, do outro e do meio ambiente.

Assim, dominando a dinâmica do conhecimento, poderiam produzir bens, serviços e sentimentos de qualidade, com produtividade. O sonho de Denming, evidentemente, não se realizou. Mas ele fez a sua parte de sonhador que tinha os pés no chão. Inoculando o setor produtivo com a necessidade de trabalhar com conhecimento profundo, abriu as portas para que o sonho de Sócrates se concretizasse, pelo menos em parte.

Sócrates acreditava que só o conhecimento poderia libertar as pessoas. Se alguém, conhecendo a verdade, atuasse contra ela, deveria estar doente. Porém, Sócrates concentrou-se no conhecimento de si mesmo. Já Deming, integrando os conhecimentos significativos ocorridos desde então, enxergou a integração da filosofia, da ciência, da técnica e dos negócios. O homem, pois, poderia tornar-se excelente, realizando os seus potenciais, pela integração dos conhecimentos dos quatro elmentos anteirmente citados.

Hoje, percebemos que ainda vale a pena insistir na ideia de formar o homem como o melhor produto possível. Contudo, há distorções que precisam ser combatidas. O homem tem sido visto apenas como um consumidor cujos hábitos são estudados meticulosamente para fazê-lo consumir ainda mais. Porém, o Planeta está dando sinais de que esse produto mal formado - o homem como consumidor - o está destruindo. Os sinais são evidentes.

Há, portanto, que se retormar a visão grega da paideia - a formação do homem integral -, para que se preserve o Planeta para os seus futuros ocupantes. Sem dúvida, o melhor produto que se pode formar, na escola como nas empresas, ainda é o homem consciente de suas responsabilidades.

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